quinta-feira, 2 de julho de 2015

" Outra maneira de escrever..."

“…-Vá lá! Vamos sair um bocadinho! – pedia Joana.
- Tá calor! Como é que te apetece mexer as pernas e andar? Eu não consigo, Joana!
- São 7 h da tarde, já não tá assim tanto calor.- insistia Joana
- Ok. Ok. Vou lavar a cara e já vamos! – decidiu Pedro.
Os dois passearam pelo Jardim, compraram um gelado e sentaram-se num banco a comê-lo. Olhavam em frente admirando o lago e nada diziam. Acabaram o gelado e olharam-se beijando-se demoradamente muito aconchegados. Quase sem folego Joana parou e disse:
- Por vezes o silêncio diz-nos tanto, né?
- Ya…- respondia Pedro contemplando o lago.
- Pedro? Sentimos o mesmo, certo?
- Como assim? Gosto de ti, tu gostas de mim. Partilhamos uma casa, contas, novidades…Joana somos um casal á cinco meses. Explica lá o que queres dizer com “ sentimos o mesmo”?
- Isso mesmo! Essa rotina que todos os casais têm. Não será só isso? Quero mais!  E…não gosto só de ti. Pedro, eu amo-te!
- Se não houvesse amor não estávamos aqui juntos! E é obvio que também te amo muito. Quero continuar esta “rotina” como lhe chamas para o resto da minha vida.
Num abraço um beijo selou aquele amor.
Passaram 3 meses e Joana adoeceu. Era o 4º dia que ficava em casa com febre e dores de cabeça, sem conseguir manter-se em pé. Pedro preocupado pediu a uma amiga enfermeira que fosse lá a casa para tirar sangue a joana para analisar. Pedro trabalhava no Hospital e era-lhe fácil pedir á Dr.ª Margarida que lhe analisasse o sangue de Joana. E visto ela não querer ir ao médico não lhe restavam muitas soluções para descobrir o que se passava com ela.
- Pedro? Quem é esta mulher? – revoltada Joana chegava a ser agressiva.
- Joana é uma enfermeira amiga. Tira-te sangue e fazemos a análise. Não tens que ir ao Hospital.
- Não quero! Nem penses Pedro. Podes mandar a moça embora antes que me irrite!
- Mas…Joana! – Pedro desistiu explicando á amiga que não ia insistir.
Passaram-se 10 dias e Joana parecia melhorar. Comia, embora pouco e saía um pouco de casa levando o lixo ao Ecoponto. Na semana seguinte, Joana de livre vontade foi ao hospital e fez análises. Uma semana depois foi buscar o envelope e marcou consulta para o dia seguinte com a médica disponível em Clínica Geral. A mesma médica que trabalhava com Pedro, Dr.ª Margarida.
- Tem marido, D. Joana? – perguntou a médica. – Preciso mesmo de saber se tem um ou mais parceiro sexual…
- Como?? – Joana estava confusa.
- Fez alguma transfusão de sangue? – continuava a médica a questionar
- Mas o que é isto? Tenho um parceiro, que por acaso trabalha aqui. E fiz uma transfusão há algum tempo. Parece-me que foi há 2 anos.
- Ok. Então é assim D. Joana a senhora tem sida. Mas como sabe existem métodos que levam á cura. Vamos intervir já. D. Joana…
- O quê? Assim sem mais nem menos? Diz-me isso assim? Como vai ser a minha vida? Tenho 26 anos e casei há meses…e…- Joana começou a perder a força e chorava compulsivamente.
A médica abraçou Joana e chamou a enfermeira que lhe trouxe um calmante. Ligaram para Pedro que a levou para casa e durante 2 dias apenas abraços e beijinhos moviam aquele casal.
Duas semanas passaram e o Hospital começou a ser uma 2ª casa para Joana. Entre consultas, análises e exames a preparação para a quimioterapia começava a preparar-se. Numa manhã soalheira Joana estava pronta para a 1ª sessão de quimioterapia, mas antes de sair o telemóvel toca.
- Sim? Bom dia!
- Bom dia! Estou a falar com a Joana Martins? Daqui é do Hospital.
- Sim? Do hospital? Diga, estava a caminho para lá.
- É para lhe informar que o seu marido, Pedro Martins sofreu um acidente grave.
- Acidente grave? Eu estou a caminho do hospital. Obrigado. – Joana não quis saber mais nada e saiu a correr.
Pedro começava a trabalhar às 7.30h da manhã. Pedro era auxiliar de ação médica no hospital há 6 anos. Pedro era um jovem responsável e muito divertido. Agora, estava nos cuidados intensivos por ter sido brutalmente atropelado por um camião que se despistara e entrara no Parque Hospitalar quando Pedro ia a atravessar o mesmo para começar a trabalhar.  Pedro foi atingido nos pulmões e não resistiu…
Joana corria como louca em direção ao Hospital e ao entrar nas urgências o médico que assistira Pedro já a esperava. Joana olhou-o e percebeu….caiu de joelhos e gritou chorando:
- NÂO! Não pode ser! EU É QUE ESTOU DOENTE…. Caramba! NÂO!
A vida tem destas coisas… por se estar doente não quer dizer que se vá morrer logo. Joana continua a fazer quimioterapia e Pedro já faleceu há 8 anos. A vida de Joana? Pois, ela bem receava pela sua vida…não foi pela doença que tinha mas sua vida virou-se do avesso por ter perdido outra vida  que fazia parte da sua….
“outra maneira de escrever…”

Rosália Dias