quinta-feira, 24 de abril de 2014

A melhor cura!

Um romance que escrevi. Uma outra maneira de escrever, não em verso.
Saliento que adorei escrever esta história!

                                                             A melhor cura


A hora habitual em que Tiago ia ao café da esquina era por volta das 19.30 h. Hora em que saía do trabalho e sem pensar em mais nada, quase que corria em direção a ele. A saída do café era por volta da meia noite e meia, cambaleando e tropeçando nos próprios pés. Tentava assim chegar a casa e quando conseguia duvidava se seria aquela a porta de sua casa. Tremia e por vezes não conseguia meter a chave na fechadura. Por fim, entrava em casa, deitava a mala para o lado perto do bengaleiro e fechava a porta com um pontapé que o fazia pender e quase cair. Chegava assim à sala e prostrava o corpo no sofá para o merecido descanso.
Todos os dias se repetia aquele "ritual". Tornara-se um hábito da qual dependia totalmente.
Acordava pelas 7 h da manhã, chegava a horas ao trabalho, muito por causa do alarme da torradeira que tocava sempre aquela hora. Porque ficaria o alarme ligado?  Nem ele sabia...
Erguia-se tonto e enjoado. Em direção à casa de banho quase apressadamente fazia a higiene. Saía e punha um bocado de pão na torradeira enquanto se vestia. Untava a torrada de um só lado e mastigava artificialmente, não lhe sabia a torrada. Deixando a mesa como sempre deixava, com a faca suja, manteiga fora do frigorífico e algum lixo passava perto do bengaleiro, pegava a mala e saía puxando a porta.
Na rua expirava o ar fresco da manhã, mas o efeito não era o que desejava. Sentia-se amarrotado, tonto, sem vontade para fazer nada, cansado. Costumava ir no autocarro das 8.30 h, mas nessa manhã nem se lembrou que ia de autocarro e andou a pé. Chegou à empresa e estava tudo fechado ainda. Sentou-se no degrau e esperou.

Em casa de Rita, o stress matinal era habitual, mas necessário. Ela tomava o peq. almoço, colava a caneca e o prato no lava loiças e agarrava a mala, as chaves do carro e saía porta fora. Rita detestava filas de trânsito e tentava sempre chegar antes da chamada hora de ponta. Mas, aquela manhã, toda a gente pensou como ela e a fila estava enorme, irritando-a profundamente. 
-Fogo!- gritava Rita, batendo no volante.
Decidiu não se dar por vencida e saiu da estrada em que seguia e entrou numa rua transversal. Encontrou um largo onde pode estacionar. Resolveu ir a pé o resto do caminho, não era longe. 
Chegou ao enorme Largo Principal da linda cidade de Braga, que conhece desde que nasceu. Uma vez, nesse Largo só teria que ir ter à Rua dos Cândidos. Pensou ir de autocarro, tinha tempo.
- Uma mulher que tem carro e ter de ir de autocarro...isto só a mim!- rabujava para si.
Chegou à paragem do autocarro e perguntou delicadamente a um senhor.
- Bom dia! Desculpe, a que horas passa o próximo autocarro?
- Bom dia menina! Passa às 10.15 h. é o 23. E depois passa o 12 ao meio dia. Hora do almoço, sabe??
-10.15 h?? ai Meu Deus! A que horas vou chegar ao trabalho? Obrigado senhor, mas olhe vou a pé..
Virou-se e começou a andar. 

Em casa de Tiago o telefone não parava de tocar...

Na porta da empresa Tiago esperava sentado no chão, meio desmaiado. As pessoas passavam e olhavam para ele como se fosse um mendigo e Tiago não tinha forças para mostrar o contrário.

Ao fundo do Largo Principal, ali estava Tiago neves, um jovem escriturário, sentado no chão, embriagado com a roupa de três dias e sem ninguém lhe ligar a mínima importância.

Virou-se e sentiu um arrepio no corpo, ao ver um homem caído no chão junto a uma porta e ninguém lhe ligava. Nervosa, atravessou a rua e chegou junto do homem que estava na porta da empresa Soares & Cunha e ajoelhando-se tocou-lhe no rosto para o despertar.

- Senhor? Acorde, vá lá! Senhor?

- Ah! Ah! O que é…? O que...eu…tou…sou…bem – balbuciava coisas sem sentido.

- Calma! Eu sou a Rita, como se chama? Qual é o seu nome? Diga-me o seu nome…

- O meu nome é Tiago…Tiago Neves…meu nome…- tentava levantar-se.

- Ok, Tiago fique aqui quietinho que eu vou pedir ajuda. Eu volto já, ok? Não saia daqui Tiago! Prometa!

- Eu prometo…tudo…prometo! – Tiago estava por tudo, porque não? Ajuda de uma mulher bonita, claro!

Rita correu até ao carro que estava na transversal da Rua da Ajuda com o Largo Principal, entrou na via principal com o trânsito mais calmo, agora que estava a polícia a controlar, conseguiu chegar á paragem do autocarro, agarrar Tiago, colocá-lo no carro e arrancar o mais depressa possível. Enquanto conduzia, olhava de relance para Tiago. Era um rapaz bonito, mas ensopado em álcool. Rita pensava para si “… esta juventude, que desperdício! Saem de casa, perdem-se, sem orientação de ninguém andam por aí sem emprego…Meu Deus! O meu emprego!!

Rita não se tinha lembrado do seu trabalho. Agora era tarde demais. Mas, tivera uma ideia…

Dirigiu-se para casa, pôs o carro na garagem e levou Tiago para dentro, onde o deitou no sofá da sala.

Rita morava no Bairro Almeida Garret, nº 35, uma vivenda enorme para uma mulher sozinha, mas o pai quis assim “tudo de bom para a minha perolazinha” … - comentava ele.

Enfim, Rita tinha tudo ali. Era o palácio para uma princesa só e sem criados, com o emprego a 5 km.

Rita preparava um chá para Tiago, quando ouviu chamar:

- Minha senhora? Menina?

- O que foi? Não pense em levantar-se daí!


Continua...