segunda-feira, 23 de abril de 2012

Encontrando o que não procuro..

Parece tão cruel, uma vida de papel,
tanta luta, tanta procura desenfreada.

Parece bom, julgo que tenho um dom,
mas procuro algo no meio do nada.

Pareço feliz, melhor do que se diz,
aparento pureza, mas não tenho muita certeza.

Parece-me que ando aqui, há tantos igual a mim,
que aquela certeza, leva-me abaixo a realeza.

Sou simplesmente igual, uma pessoa normal.
Encontrei igualdade, a triste realidade.

Não tenho dom, tom sobre tom
Tenho vontade que me leva simplesmente á liberdade....



quarta-feira, 18 de abril de 2012

Lembrando poetas grandes...

Hoje lembro Antero Quental nascido em 18 de Abril de 1842, foi um poeta, filósofo e politico.


Voz Interior

Embebido n'um sonho doloroso,
Que atravessam fantásticos clarões,
Tropeçando n'um povo de visões,
Se agita meu pensar tumultuoso...

Com um bramir de mar tempestuoso
Que até aos céus arroja os seus cachões,
Através d'uma luz de exalações,
Rodeia-me o Universo monstruoso...

Um ai sem termo, um trágico gemido
Ecoa sem cessar ao meu ouvido,
Com horrível, monótono vaivém...

Só no meu coração, que sondo e meço,
Não sei que voz, que eu mesmo desconheço,
Em segredo protesta e afirma o Bem!

Antero de Quental, in "Sonetos"

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Como o mar e a areia

Como uma pintura não acabada,
fica o toque do mar na areia.
Nos meus pés uma sensação molhada,
no pensamento melancolia vagueia.

Talvez por não conseguir desenhar igual ao teu corpo.
Talvez por não transmitir, este sentimento louco.

Amantes que somos nós os dois,
mas não como a areia e o mar.
Sim, sentimentos sentimos! E depois?
Faz-nos somente querer mais amar!

Simplesmente amor!



Pura loucura senti,
quando tua mão me tocou.
Parecia o toque do cetim
algo que me agradou.

A expressão do meu rosto,
demonstrou o meu sentir.
E, foi com profundo gosto
que resolvi retribuir.

Resolvi então enfrentar,
o que meu corpo absorveu.
Fixei-me em teu olhar
e a sensação cresceu.

Foi simplesmente amor!

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Lembrando poetas grandes...

Poetisa, romancista, argumentista, cronista e actriz de teatro, cinema e televisão, sendo igualmente autora de letras de canções e fados. Rosa Lobato de Faria



O tempo

“O tempo tem aspectos misteriosos:
Um ano passa a toda a velocidade,
E um minuto, se estamos ansiosos
Parece, às vezes, uma eternidade.

Um dia ou é veloz ou pachorrento
-depende do que está a contecer-
O tempo de estudar, pode ser lento.
O tempo de brincar, passa a correr.

E aquela terrível arrelia
Que até te fez chorar, por ser tão má,
deixa passar o tempo. Por magia,
Quando olhamos para trás, já lá não está. “

(Rosa Lobato Faria)

terça-feira, 3 de abril de 2012

Meu pedaço

Quero, porque quero sentir,
quero, porque se sinto vejo,
quero, ver-te a sorrir,
quero, é esse meu desejo.

Posso, porque mando em mim,
Posso, porque decido eu,
Posso querer-te aqui,
Posso fazer-te só meu!

O que quero, o que posso eu?
O que sinto e o que vejo?
É pensamento, pedaço meu..
é tudo com que desejo...

Lembrando poetas grandes...


Quem não se lembra de Natália Correia? Leia, então...

Nuvens correndo num rio

Nuvens correndo num rio
Quem sabe onde vão parar?
Fantasma do meu navio
Não corras, vai devagar!

Vais por caminhos de bruma
Que são caminhos de olvido.
Não queiras, ó meu navio,
Ser um navio perdido.

Sonhos içados ao vento
Querem estrelas varejar!
Velas do meu pensamento
Aonde me quereis levar?

Não corras, ó meu navio
Navega mais devagar,
Que nuvens correndo em rio,
Quem sabe onde vão parar?

Que este destino em que venho
É uma troça tão triste;
Um navio que não tenho
Num rio que não existe.

                      Natália Correia


Lembrando poetas grandes

Aqui, neste poema Fernando como Ricardo. 


Certeza Única é o Mal Presente

Pois que nada que dure, ou que, durando,
Valha, neste confuso mundo obramos,
E o mesmo útil para nós perdemos
Conosco, cedo, cedo.

O prazer do momento anteponhamos
À absurda cura do futuro, cuja
Certeza única é o mal presente
Com que o seu bem compramos.

Amanhã não existe. Meu somente
É o momento, eu só quem existe
Neste instante, que pode o derradeiro
Ser de quem finjo ser?

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Lembrando poetas grandes...

Este poema é de Fernando Pessoa. Colocarei também dos seus heterónimos. Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Álvaro de Campos.


Se penso mais que um momento

Se penso mais que um momento
Na vida que eis a passar,
Sou para o meu pensamento
Um cadáver a esperar.

Dentro em breve (poucos anos
É quanto vive quem vive),
Eu, anseios e enganos,
Eu, quanto tive ou não tive,

Deixarei de ser visível
Na terra onde dá o Sol,
E, ou desfeito e insensível,
Ou ébrio de outro arrebol,

Terei perdido, suponho,
O contacto quente e humano
Com a terra, com o sonho,
Com mês a mês e ano a ano.

Por mais que o Sol doire a face
Dos dias, o espaço mudo
Lambra-nos que isso é disfarce
E que é a noite que é tudo.

Fernando Pessoa